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Para além de uma intervenção que reverencia a história e a cultura do povo sertanejo, a caminhada desvela o sertão a partir do umbuzeiro como entidade encantadora e singular que assim como o seu povo, apresenta-se como símbolo de vida e resistência nestas terras áridas. Busca-se também, através da caminhada, salientar os sérios padecimentos que a caatinga, em especial o umbuzeiro, vem sofrendo em virtude da desenfreada degradação ambiental. Deste modo, a caminhada é realizada no período que compreende a frutificação do umbuzeiro, recriando as peregrinações sertanejas.

A primeira caminhada saiu de uma utopia para realidade a partir da iniciativa do professor e escritor Sérgio Guerra, que viabilizou a concretização da tão sonhada expedição ao inseri-la na programação das atividades alusivas ao Centenário do Professor José Calazans realizada pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), em agosto de 2015, por este fato a caminhada aconteceu em agosto, e não no período do umbu, como é previsto desde a sua concepção.

A segunda expedição foi realizada em abril de 2016, homenageado João de Regis, filho de conselheiristas, que contribuiu ao longo do tempo com vários depoimentos sobre a Guerra de Canudos e ajudou a aprofundar o resgate da verdadeira história de Canudos, a história dos vencidos, em detrimento da propalada e conhecida versão dos vencedores.

Com o tema “as meninas do Belo Monte” a 3ª Expedição, fez uma homenagem às mulheres da guerra, mulheres que marchavam junto com seus maridos para o alto da favela, outras, cozinhavam à espera dos milhares de famintos, e que também combateram na defesa de suas moradias e ideais, e que foram tão destratadas por Euclides da cunha, só por se apresentarem "desmazeladas", perante a  guerra. Às que sobreviveram reexistiram em uma outra Canudos, sem guerra, mas em paz? Esta outra batalha foi/é travada no cotidiano dessas mulheres, que precisam vencer, para além da aridez do lugar, a violência que é desencadeada nos lares, pela truculência machista , a falta de  trabalho, saúde, educação. Mas mulheres que também (re)criam e (re)inventam seu cotidiano ao desenvolverem e/ou participarem de ações e projetos de melhoria de vida, sua e de suas   famílias.

A quarta Caminhada dos Umbuzeiros aconteceu nos dias 2, 3 e 4 de Março de 2018, tendo como tema “O Vaza-Barris sedento no caminho das árvores que dão de beber”, que trouxe à tona discussões sobre a importância e cuidado com a água e a preservação da caatinga. A IV expedição contou com um processo de seleção a partir de cartas de interesse e motivação entregues juntamente com as inscrições dos interessados, exprimindo suas afinidades e perspectivas para a caminhada. Participaram 43 caminhantes, dentre os quais artistas, historiadorxs, professores, pesquisadores, jovens e amantes da caatingas e do sertão, vindos de diversos lugares distribuídos entre os sertões da região e demais estados (Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Alagoas, Pernambuco, Goiânia, Brasília), incluindo participação de caminhantes de outros países (Alemanha).

Agora abrem-se os caminhos para a 5ª Expedição, com o tema: se a Caatinga é nossa existência, seremos resistência! A expedição acontecerá nos dias 22 a 24 de março de 2019.

Esta é uma jornada em que as veredas de tantas vidas confluem num mesmo caminho, embrenhando-se nas áridas e férteis caatingas de tantas existências; este caminhar proporciona um desbravar de si, num desvelar de forças inimagináveis, que permitem conhecer o ser-tão resistente que habita e se expressa em cada ser. “Somos o nosso chão!”, e no caminho a diversidade se manifestada nos sotaques, nos ritmos, nas forças e nos passos, em uma única prosa: sertão! Tocar a estrada e ser radicalmente transformadxs por ela, é a principal marca da Caminhada dos Umbuzeiros. 

[1] Árvore que dá de beber é o significado da palavra tupi-guarani: imbu, fruto do umbuzeiro.

 

Atravessar o sertão por (des)caminhos cheio de pedras leitosas que montam-se umas às outras e a cada pisada é como que se as desmanchassem; de árvores grandes, pequenas, todas elas retorcidas, de cactáceos que brotam do pensar quando o sol se faz a pino é o que constitui a Caminhada dos Umbuzeiros. Uma expedição exitosa que há três anos reconstitui os caminhos seguidos por conselheiristas e tropas militares, partindo da cidade de Uauá – BA com destino à localidade de Alto Alegre ou “Canudos Velho”, como é mais conhecida.

Uma jornada que permite vivenciar o elo entre o sertão e o ser, a partir de uma imersão no modo de viver, nas tradições, na cultura e nas histórias de muitos sertanejos e sertanejas que guerrearam e continuam lutando e resistindo na construção de uma sociedade justa e igualitária. Histórias vivas, ricas memórias e saberes, passado e presente num único caminho.

Esta travessia nasceu nas aspirações do Padre Marcos Peregrino há mais de 15 anos, que vislumbrava a realização de uma caminhada que valorizasse a história de luta e resistência do povo sertanejo, e que a intitulou com o nome da árvore sagrada do sertão: o Umbuzeiro, remetendo também à peregrinação anual que as catadeiras de umbu realizam, enveredando-se pela caatinga para colheita do fruto e do sustento na “árvore que dá de beber”[1],

Gildemar Sena
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